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Saúde

O luto de cada dia que morre: a reconstrução contínua do sentido da vida

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Foto divulgação

A expressão “morri junto”, frequentemente utilizada após a perda de alguém, sugere uma ligação intensa e visceral entre o amor e a dor da ausência

Collin Parkes, autor de “Amor e Luto em Dois e Nove”, oferece reflexões valiosas sobre a interseção entre amor e perda. Seu trabalho explora as complexidades emocionais envolvidas nessas experiências, destacando como ambas são partes intrínsecas da narrativa humana. Para Ana Claudia Quintana Arantes, especialista em geriatria com formação avançada em Cuidados Paliativos e pós-graduada em Psicologia — Intervenções em Luto, ao abordar a experiência do amor e da perda, devemos reconhecer que os relacionamentos humanos não são lineares, mas, sim, compostos por nuances de luz e sombra. Ela diz que na perda, embora a tendência seja lembrar apenas dos aspectos positivos da relação, é fundamental compreender que todo relacionamento possui desafios e áreas de tensão.

A médica comenta que a efemeridade da vida amplifica a experiência do amor, revelando que quanto maior o vínculo emocional, maior o risco de viver uma dor imensa pelo rompimento deste vínculo. “O luto antecipatório, marcado pela notícia da morte anunciada, é um momento que podemos ter a chance de amar com maior consciência da qualidade deste afeto. Falar da finitude ajuda a remover obstáculos a expressão dos nossos sentimentos, permitindo um amor puro e descontaminado. A separação física entre entes queridos permite a medição mais clara desse laço emocional. O afastamento temporário revela a profundidade do afeto, destacando a saudade e a apreciação muitas vezes negligenciadas durante a convivência diária”, aponta.

Amar

Segundo a especialista, amar é uma fonte crucial de segurança, autoestima e confiança, estabelecendo vínculos únicos. A compreensão de que o amor não pode ser substituído é fundamental para preservar a individualidade e a história de cada pessoa. A perda de uma pessoa querida não implica na necessidade de encontrar um substituto, pois cada conexão é única e insubstituível. Ao recusar a ideia de substituição, respeita-se a história compartilhada e a singularidade do vínculo. Assim, a aceitação de que o amor pode ser redirecionado, sem ser interpretado como traição, é um reconhecimento da evolução das emoções. “Não se trata de esquecer ou substituir a pessoa amada, mas de direcionar a energia de amor para novas experiências e conexões, mantendo viva a fonte de segurança emocional”, explica.

Dra. Ana Claudia Quintana - Foto divulgação

Dra. Ana Claudia Quintana – Foto divulgação

O sentido da vida

De acordo com Ana Claudia, o enfrentamento da dor da perda é uma jornada singular, permeada por emoções intensas que, por vezes, podem ser esmagadoras. “Cada indivíduo lida com a perda de maneira única, moldando o caminho de sua própria cura. É essencial reconhecer a subjetividade desse trajeto, compreendendo que não há uma receita única para lidar com a perda. Cada pessoa possui sua própria gama de sentimentos, memórias e laços afetivos que influenciam a maneira como ela enfrenta o luto”, destaca.

Os laços afetivos estabelecidos ao longo do tempo criam uma rede de apoio que se revela fundamental durante o enfrentamento da perda. A família não apenas compartilha a carga emocional, mas também oferece conforto e compreensão, elementos cruciais para a jornada de cura.

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Vai passar

Conforme a médica, enfrentar a realidade da finitude da vida pode motivar a busca por uma existência mais plena, valorizando cada instante e vivenciando experiências de forma intensa. Para ela, a complexidade do existir é ressaltada pelas inúmeras perguntas sem resposta que permeiam a jornada humana. Aceitar a existência dessas incógnitas é abraçar a vida como uma jornada repleta de mistérios e oportunidades de descobertas. “A esperança, longe de ser uma ilusão, revela-se como uma força tangível capaz de sustentar e orientar aqueles que enfrentam a dor do luto. O apoio emocional e a resiliência tornam-se aliados fundamentais nesse processo de reconstrução, evidenciando que, mesmo diante da perda, a vida pode florescer novamente”, conclui.

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