Saúde
Menopausa: especialista explica o que é, quais são os sintomas e por que a doença pode acometer mulheres precocemente como aconteceu com a apresentadora Angélica
Nesta fase da vida, algumas considerações importantes incluem a manutenção da saúde física, emocional e mental, bem como a prevenção de doenças crônicas
De acordo com a ginecologista Juliana Risso, a menopausa é uma fase natural na vida da mulher que marca o fim da menstruação e da capacidade reprodutiva. Clinicamente, caracteriza-se pela não menstruação por um período de 12 meses consecutivos. Na menopausa, os ovários entram em “falência” e não produzem mais os hormônios femininos porque acabaram os óvulos. Esse evento, geralmente, ocorre em torno dos 45 e 55 anos, embora a idade possa variar. Já o climatério ou transição menopausal abrange a transição da fase reprodutiva e não reprodutiva da mulher. Esse período compreende tanto a perimenopausa quanto a pós-menopausa. A perimenopausa refere-se ao período de transição que precede a menopausa, marcado por flutuações hormonais e mudanças nos ciclos menstruais, enquanto a pós-menopausa é iniciada após a última menstruação. O climatério tem como característica a diminuição gradual na produção dos hormônios sexuais femininos, estrogênio e progesterona, pelos ovários. A médica explica que essa transição hormonal pode resultar em uma série de sintomas, incluindo ondas de calor (fogachos), ressecamento vaginal, diminuição da libido, entre outros. Os sintomas do climatério também podem ser alterações no sono, mudanças de humor e irritabilidade. A progesterona é o primeiro hormônio feminino que cai e tem ação do neurotransmissor GABA, que atua de forma inibitória no cérebro, modulando ou equilibrando a ansiedade, irritabilidade, e muitas vezes, as mulheres não percebem. Elas atribuem esses sinais ao estresse da vida moderna.
Menopausa precoce
Em entrevista ao programa Roda Viva, na TV Cultura, a apresentadora Angélica disse que enfrentou a menopausa precoce aos 43 anos. Conforme a ginecologista, isso acontece quando uma mulher experimenta a cessação da menstruação antes dos 40 anos. “Embora a menopausa, por definição médica, ocorre em torno dos 50 anos, geralmente entre 45 e 55 anos, e embora por definição médica se considere abaixo dos 40 anos, 43 anos, como a apresentadora, é bem cedo. Infelizmente, é cada vez mais comum nos dias de hoje. Fatores genéticos, ambientais e de saúde podem influenciar o momento em que uma mulher entra na menopausa”, aponta. A médica destaca várias razões pelas quais algumas mulheres podem enfrentar a menopausa precoce.
– Fatores genéticos: Desempenha um papel importante na determinação da idade em que uma mulher entra na menopausa. Se a mãe ou irmãs tiverem experimentado a menopausa precoce, a probabilidade pode aumentar.
– Fatores autoimunes: Algumas condições como a síndrome de Turner ou a artrite reumatoide podem afetar a função ovariana e levar à menopausa precoce.
– Tratamentos médicos: Terapias de radiação e quimioterapia utilizadas para tratar certos tipos de câncer podem danificar os ovários e levar à menopausa precoce.
– Cirurgia: A remoção cirúrgica dos ovários resulta na cessação imediata da função ovariana, levando à menopausa.
-Distúrbios hormonais: A insuficiência ovariana prematura pode levar à menopausa precoce.
– Estilo de vida e fatores ambientais: tabagismo, uso excessivo de álcool, baixo peso corporal e estresse crônico podem estar associados a um maior risco de menopausa precoce.
– Anomalias cromossômicas: A síndrome de Fragile X pode estar associada à menopausa precoce.
“É importante notar que a menopausa precoce pode ter implicações para a saúde, incluindo riscos aumentados de osteoporose, doenças cardiovasculares e outros problemas de saúde relacionados à deficiência hormonal. Se uma mulher está preocupada com a menopausa precoce ou experimenta sintomas relacionados, é aconselhável procurar orientação médica para avaliação e a possibilidade de terapia de reposição hormonal bioidêntica caso não exista contraindicação”, ressalta.
A menopausa e as alterações de comportamento
A ginecologista diz que a menopausa pode trazer uma série de alterações físicas e emocionais, tornando-se uma questão desafiadora para as mulheres. Risso comenta algumas mudanças associadas à menopausa.
Flutuações hormonais: Durante a menopausa, os níveis hormonais, especialmente os de estrogênio e progesterona, diminuem. Essas flutuações hormonais podem contribuir para alterações de humor, irritabilidade e ansiedade.
Sintomas físicos: Muitas mulheres experimentam sintomas físicos desconfortáveis, como ondas de calor, sudorese noturna, insônia, fadiga, dores articulares e musculares. Esses sintomas podem afetar negativamente o humor e a qualidade de vida.
Mudanças no padrão de sono: A falta de sono adequado pode levar a alterações no humor, irritabilidade e dificuldade de concentração.
Alterações na libido: Algumas mulheres experimentam uma diminuição da libido (desejo sexual) devido às mudanças hormonais, desconforto físico ou questões emocionais relacionadas à
autoimagem e autoestima.
Alterações na autoimagem: As mudanças físicas associadas à menopausa, como ganho de peso e alterações na pele, podem impactar a autoimagem e a autoestima, afetando o bem-estar emocional.
Desafios psicológicos: A menopausa pode ser uma transição significativa na vida de uma mulher, muitas vezes associada ao envelhecimento e a mudanças na identidade feminina. Isso pode desencadear desafios psicológicos, como sentimentos de perda, ansiedade sobre o envelhecimento e reflexões sobre o propósito de vida.
Juliana alerta que as alterações podem variar de mulher para mulher, e nem todas experimentam todos os sintomas. A diminuição dos níveis de estrogênio durante a menopausa está associada a perdas de massa óssea, aumentando o risco de osteoporose. A atenção à saúde óssea, incluindo a ingestão adequada de cálcio e vitamina D, é fundamental. O declínio dos níveis de estrogênio também pode afetar a saúde cardiovascular, aumentando o risco de doenças cardíacas. Estabelecer hábitos de vida saudáveis, como exercícios regulares e uma dieta equilibrada, é crucial. Com a possibilidade de alterações emocionais durante a menopausa, o suporte e o cuidado com a saúde mental são imprescindíveis. A busca de ajuda profissional, se necessária, pode ser benéfica.
Vida sexual
Segundo a médica, a vida sexual pode ser afetada durante a menopausa devido a uma combinação de fatores físicos, emocionais e hormonais. Algumas das mudanças que as mulheres podem experimentar na vida sexual durante a menopausa incluem a síndrome genito-urinária, que acontece por diminuição do estrogênio, causando desconforto ou dor durante o sexo. A falta de estrogênio pode resultar em uma diminuição da elasticidade e firmeza dos tecidos vaginais. Algumas mulheres podem notar alterações na intensidade dos orgasmos ou podem ter dificuldade em atingi-los. As mudanças hormonais podem afetar a sensibilidade sexual e a resposta aos estímulos. Sintomas como fadiga e distúrbios do sono associados à menopausa podem influenciar negativamente a disposição para a atividade sexual. “Essas mudanças não afetam todas as mulheres da mesma maneira, e algumas mulheres podem não experimentar nenhum impacto significativo na sua vida sexual durante a menopausa. Além disso, o suporte do parceiro, a comunicação aberta e o entendimento mútuo são fundamentais para lidar com as mudanças e manter uma vida sexual saudável”, conta. Risso diz que para tratar os sintomas relacionados à vida sexual durante a menopausa, as mulheres podem considerar opções como lubrificantes vaginais para combater o ressecamento, terapias hormonais (após conversa com um profissional de saúde), atividades físicas regulares podem ajudar na saúde geral e no bem-estar sexual. “É importante que as mulheres se sintam à vontade para discutir suas preocupações com seu ginecologista, pois existem diversas abordagens e opções de tratamento disponíveis para melhorar a qualidade de vida sexual durante a menopausa”, orienta.
Reposição hormonal
A médica lembra que a reposição hormonal é uma opção de tratamento para aliviar os sintomas associados à menopausa. É frequentemente indicada para mulheres que experimentam desconforto significativo devido a queda nos níveis hormonais, especialmente de estrogênio, progesterona e testosterona (neste caso, trata-se da libido hipoativo ou falta de desejo sexual). No entanto, a decisão de realizar a reposição hormonal deve ser cuidadosamente avaliada com um profissional de saúde, levando em consideração os benefícios e riscos individuais. A reposição hormonal pode ajudar a aliviar vários sintomas da menopausa, incluindo ondas de calor, ressecamento vaginal, diminuição da libido, distúrbios do sono, ansiedade e depressão, alterações de humor, além de prevenir a perda de massa óssea, proteção cardiovascular, entre outros. A ginecologista salienta que ela só prescreve e orienta reposição hormonal bioidêntica ou isomolecular, que pode ser na forma de gel ou implantes, caso a paciente não tenha nenhuma contraindicação, como antecedente de câncer dependente de hormônio, histórico de trombose, doenças autoimunes, ou cardiovasculares, renais ou de fígado graves, por exemplo. Alternativas à terapia hormonal, como mudanças no estilo de vida, terapias não hormonais e tratamentos específicos para sintomas particulares, também podem ser consideradas.
Desmistificando mitos em relação à menopausa
Para Juliana, a menopausa não é uma sentença. Pode e deve ser encarada como a melhor fase, pois a mulher já tem maturidade para enxergar bem a vida. “Outro mito é que todas as mulheres terão os mesmos sintomas. Na realidade, as experiências durante a menopausa variam amplamente. Algumas mulheres podem passar por ela sem sintomas significativos, enquanto outras podem experimentar uma variedade de sintomas, desde ondas de calor até alterações no humor. Cada mulher é única vida”, desmistifica. É mito que a terapia hormonal é a única opção para aliviar os sintomas. Embora seja uma opção eficaz para muitas mulheres, há diversas abordagens para gerenciar os sintomas da menopausa. Mudanças no estilo de vida, suplementos naturais, terapias não hormonais e medicamentos específicos para sintomas podem ser considerados. Mais um mito é que a terapia de reposição hormonal dá câncer. A médica fala que essa afirmação é leviana, pois generaliza e causa medo nas mulheres em geral. Esse mito vem de um estudo clínico da década de 90, o WHI — Women’s Health Initiative. “O objetivo foi investigar os riscos e benefícios da terapia hormonal na pós- menopausa, bem como outras intervenções relacionadas à saúde das mulheres. O estudo foi lançado em 1991. Consistiu em uma série de ensaios clínicos randomizados e controlados para avaliar o efeito da terapia hormonal na prevenção de doenças, como cardíacas, câncer de mama, câncer de cólon e osteoporose em mulheres pós-menopáusicas. Os resultados do WHI levaram a uma revisão significativa na prescrição de terapia hormonal pós-menopausa e influenciaram, consideravelmente, as abordagens de tratamento e as orientações médicas. É importante observar que o WHI se concentrou em terapia hormonal convencional (não bioidêntica) administrada oralmente, o que pode ter impactado os resultados em relação a outras formas de terapia hormonal ou tratamentos mais modernos”, explana. Outro mito é que a menopausa significa o fim da produtividade e da vitalidade. Muitas mulheres continuam a ter carreiras bem sucedidas, relacionamentos saudáveis e uma vida ativa após a menopausa.
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