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A bariátrica é uma cirurgia agressiva?
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) apresentou dados do ano passado que indicaram 74.738 procedimentos realizados, enquanto em 2019, um ano antes da pandemia, ficaram em 53.087. Foram somadas as cirurgias bariátricas feitas por convênios, particulares e Sistema Único de Saúde (SUS), que está aquém. Em 2023, a influenciadora digital Jojo Todynho, personalidade famosa do país, fez a cirurgia bariátrica.
Segundo o médico Luís Felipe Paschoali, trata-se de um procedimento para promover o emagrecimento de forma rápida em pessoas portadoras de obesidade. As técnicas podem ser classificadas como disabsortivas (diminuem a absorção de nutrientes) e restritivas (restringem a quantidade de alimento ingerido). São utilizados dois procedimentos cirúrgicos principais. O bypass gástrico — técnica mista caracterizada por cortar uma parte do estômago, limitando a ingestão de alimento, além de “desviar” o trânsito intestinal normal, promovendo redução na absorção de nutrientes. A outra mais utilizada é a sleeve. Cerca de 80% do estômago é retirado, restringindo a ingestão de alimentos e não contendo componente disabsortivo.
A obesidade é classificada de acordo com o índice de massa corpórea (IMC), calculado da seguinte forma: peso (quilogramas) dividido pela altura (metros) ao quadrado. Em seguida, a obesidade é classificada em grau 1 (IMC entre 30 e 34,9), grau 2 (IMC entre 35-39,9) e grau 3 (IMC acima de 40). A cirurgia bariátrica está indicada em pacientes portadores de obesidade grau 2 associado a doenças relacionadas a obesidade e para todos os pacientes com obesidade grau 3, independente da presença de comorbidades, após de 2 anos de tratamento clínico sem sucesso. O médico Luís Paschoali, especialista em clínica médica e com grande experiência no tratamento clínico de pacientes obesos mórbidos, explica que o procedimento é contraindicado aos pacientes com doenças crônicas não controladas e também para os que lidam com enfermidades pulmonares severas. Gestantes, usuários de drogas ou álcool, pacientes muito idosos e aqueles que não possuem suporte familiar adequado não devem fazer.
Avaliação psicológica antes da cirurgia
De acordo com Luís Felipe Paschoali é fundamental que se faça um rastreio para avaliar se o paciente possui alguma condição psíquica não diagnosticada, que seja potencialmente controlável. O profissional comenta que é preciso ressignificar a relação com os alimentos, fazendo que as pessoas consigam diferenciar a fome fisiológica da psicológica, além do motivo e eventuais gatilhos que os levam a exagerar no consumo alimentar. “Essas doenças costumam contribuir com o ganho de peso. Uma vez controladas e com o auxílio de uma equipe multidisciplinar composta por médicos de diferentes especialidades, nutricionista, psicólogo, educador físico, fisioterapeuta e qualquer outro profissional que o paciente necessite. É possível que haja uma perda de peso e, em alguns casos, evitando ou postergando o procedimento cirúrgico”, destaca. O médico fala que se após dois anos com acompanhamento multidisciplinar o paciente não conseguir perder o peso necessário, é papel do psicólogo e do psiquiatra avaliar as condições psíquicas para realizar o procedimento.
A bariátrica é uma cirurgia agressiva?
Conforme Luís Felipe Paschoali, a cirurgia bariátrica é um procedimento que evoluiu muito nos últimos anos. Inicialmente, a barriga do paciente era aberta da altura do peito até abaixo do umbigo. O uso de anéis para limitar a passagem de alimentos pelo trato gastrointestinal com o intuito de potencializar a perda de peso era regra.
Hoje, as cirurgias são realizadas por vídeo e, em alguns serviços, através da robótica. Isso reduziu o tamanho dos cortes, a resposta inflamatória e, como consequência, o risco. “Tudo isso fazia com que a recuperação fosse mais lenta, dolorosa e a taxa de mortalidade e de complicações fossem mais altas. Com o passar dos anos, nossos conhecimentos sobre fisiopatologia, procedimento e suas possíveis complicações aumentaram. Novas técnicas menos invasivas e mais eficientes foram desenvolvidas. O uso do anel foi praticamente abolido, já que ele costumava aumentar as taxas de complicações”, detalha.
Luís Felipe afirma que o avanço tecnológico e científico associado à valorização do tratamento clínico multidisciplinar, à avaliação pré-operatória bem feita e à utilização de técnicas cirúrgicas modernas, fez com que o risco cirúrgico atual fosse menor que um por cento na maior parte dos serviços. O médico mostra que houve uma valorização do tratamento clínico da obesidade, pois desta forma era possível obter um controle adequado das doenças de base do paciente, como por exemplo, pressão alta e diabetes. Verificou-se também que a perda de peso, antes da cirurgia, era capaz de reduzir as complicações e a mortalidade, por diminuir a inflamação crônica que o paciente obeso está constantemente submetido. Paschoali reforça que o auxílio da equipe multidisciplinar melhora o desfecho cirúrgico e diminui as chances de ganho de peso no pós-cirúrgico. Ademais, um acompanhamento pré-operatório bem conduzido, com avaliação ampla e detalhada dos diversos sistemas do paciente, também ajudou a melhorar o prognóstico.
Luís Paschoali aponta que a obesidade é uma doença crônica e incurável, com dietas restritivas, medicamentos, balão intragástrico e até mesmo a cirurgia bariátrica são métodos que farão com que a pessoa perca peso no curto prazo. Contudo, a partir do momento que é interrompido os meios de emagrecimento ou o organismo se habitua com as mudanças no trato gastrointestinal (no caso da cirurgia bariátrica), poderá ocorrer ganho de peso se não houver uma mudança no estilo de vida.
Atualmente, a técnica mais utilizada promove tanto a redução da ingestão de alimentos quanto a diminuição da absorção de nutrientes. Essas alterações promovidas farão o paciente suplementar para o resto da vida, com destaque para proteína, vitamina D, vitamina B12, cálcio, ferro. É importante manter a suplementação de polivitamínicos em altas doses e sempre fazer monitoramento periódico com médico e outros profissionais da saúde. Os abusos alimentares podem ter consequências graves, como por exemplo a Síndrome de Dumping. Podem ocorrer o desenvolvimento de doenças psiquiátricas após a realização da cirurgia. Para que essas complicações sejam evitadas, é necessária uma alimentação regrada e um acompanhamento médico e multidisciplinar durante o resto da vida, já que diversas mudanças ocorrem na vida da pessoa, tanto do ponto de vista anatômico, quanto metabólico, após a cirurgia. O paciente não conseguirá mais comer como antes. A quantidade e qualidade de alimentos ingeridos deverão ser diferentes. Abusos como a ingestão de alimentos em excesso ou se alimentar de alimentos ricos em gorduras, carboidratos refinados
ou alimentos ultraprocessados poderão fazer mal.
A cirurgia bariátrica e a melhora da saúde dos obesos
A obesidade está frequentemente associada a diversos tipos de doenças como a resistência à insulina e diabetes, doenças cardiovasculares, colesterol alto, pressão alta, infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, gordura no fígado, além de proporcionar a população portadora desta doença um risco três vezes maior de desenvolver diversos tipos de cânceres quando comparado à população não obesa. A cirurgia bariátrica promove a redução rápida de peso. É um procedimento que traz a mudança na secreção de alguns hormônios no corpo da pessoa. São capazes de controlar essas doenças e, como consequência, melhorar a saúde dos obesos. “Uma melhor qualidade de vida, otimizando a capacidade de locomoção, redução das dores nas articulações e melhora da autoestima, o que a torna uma boa opção para o paciente que não obteve êxito em atingir o emagrecimento apenas com o tratamento clínico”, finaliza o médico.
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