OMS diz que hérnia de disco atinge 80% da população mundial; entenda os sintomas e o tratamento

Especialista esclarece os principais tópicos da doença.

A atriz Taís Araújo passou por cirurgia após ser internada às pressas com fortes dores na região lombar. O diagnóstico da artista foi hérnia de disco. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que 8 em cada 10 pessoas sofrem com o problema.

De acordo com o neurocirurgião Jamil Farhat Neto, a hérnia de disco é uma condição que afeta a coluna vertebral, especificamente os discos intervertebrais, que são estruturas localizadas entre as vértebras da coluna. Esses discos têm uma consistência semelhante a um gel e funcionam como amortecedores, proporcionando flexibilidade à coluna. O médico diz que quando ocorre uma hérnia de disco, parte do núcleo gelatinoso pode vazar para fora do disco, pressionando os nervos ao redor, resultando em sintomas como dor, formigamento, fraqueza muscular e, em casos mais graves, comprometimento da função nervosa.

A hérnia de disco é causada por um desgaste natural associado ao envelhecimento. Ao longo do tempo, os discos intervertebrais, que são estruturas gelatinosas localizadas entre as vértebras da
coluna, podem perder sua elasticidade e resistência. O processo é conhecido como degeneração discal. Além do envelhecimento, outros fatores podem contribuir para o desenvolvimento de uma hérnia de disco. Lesões na coluna, traumas e atividades repetitivas que colocam pressão excessiva sobre a coluna vertebral também podem desencadear esse problema. Posturas inadequadas, levantamento de pesos de maneira incorreta e sedentarismo são exemplos de comportamentos que podem aumentar o risco de hérnia de disco.

Em alguns casos, fatores genéticos também desempenham um papel, predispondo algumas pessoas a terem uma maior propensão para desenvolver problemas nos discos intervertebrais. “A prevenção desempenha um papel crucial. Adotar hábitos saudáveis, como a prática regular de exercícios, manter uma postura adequada e evitar atividades que sobrecarreguem a coluna, pode ajudar a reduzir o risco de desenvolver hérnias de disco. Contudo, se a condição já estiver presente, as opções de tratamento, incluindo cirurgia minimamente invasiva em coluna, podem ser consideradas para aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida”, ressalta.

Sintomas

Conforme Jamil, a hérnia de disco pode se manifestar de diferentes formas, variando em intensidade e localização. A dor é um sintoma localizado na região afetada da coluna vertebral. Pode irradiar para os braços, se a hérnia estiver na região cervical, ou para as pernas, se estiver na região lombar. O formigamento e a dormência levam à compressão dos nervos pela hérnia de disco. Isso pode ocorrer nos membros superiores ou inferiores, dependendo da localização.

Os músculos controlados pelos nervos comprimidos podem apresentar fraqueza, afetando a habilidade de segurar objetos, caminhar ou realizar outras atividades motoras. Em alguns casos, a hérnia de disco pode afetar os reflexos, levando a respostas anormais quando certas áreas são estimuladas. “A dor e outros sintomas podem piorar ao realizar movimentos específicos, como inclinação, torção ou levantamento de objetos pesados”, completa.

Tratamentos

O neurocirurgião lista os principais tratamentos para a hérnia de disco. Tratamento Conservador: Medicamentos analgésicos, anti-inflamatórios e relaxantes musculares podem ser prescritos para aliviar a dor e reduzir a inflamação.

Fisioterapia: Exercícios específicos e técnicas de fortalecimento podem ajudar a melhorar a estabilidade da coluna e aliviar os sintomas. Repouso e Modificações na Atividade: Evitar atividades que exacerbam os sintomas e adotar posturas corretas são medidas importantes.

Injeções Epidurais: Em alguns casos, injeções de corticosteroides, diretamente na área afetada, podem proporcionar alívio temporário da dor e inflamação. Cirurgia minimamente invasiva: Em situações em que o tratamento conservador não é eficaz, e os sintomas são persistentes, a cirurgia pode ser considerada. “Minha especialidade é a cirurgia minimamente invasiva em coluna, que envolve procedimentos com incisões pequenas, reduzindo o trauma aos tecidos circundantes”, comenta. Discectomia: Este procedimento visa remover a parte do disco herniado que está pressionando os nervos, aliviando os sintomas.

“A decisão sobre o tratamento é individualizada e baseada na avaliação do paciente. O objetivo principal é aliviar a dor, melhorar a função e proporcionar uma melhor qualidade de vida. A cirurgia
minimamente invasiva busca oferecer uma abordagem eficaz, com menor tempo de recuperação, e menor desconforto pós-operatório, proporcionando aos pacientes uma retomada mais rápida de
suas atividades cotidianas”, destaca Jamil.

Indicação cirúrgica

Segundo o neurocirurgião, a decisão de realizar uma cirurgia para hérnia de disco é baseada em vários fatores e requer uma avaliação cuidadosa da situação clínica de cada paciente. Quando os sintomas da hérnia de disco persistem, apesar de tratamentos conservadores, como medicamentos, fisioterapia e repouso, a cirurgia pode ser indicada para aliviar a pressão sobre os nervos. Se a hérnia de disco está causando fraqueza significativa, perda de sensibilidade ou outros déficits neurológicos que afetam a qualidade de vida e a capacidade funcional, a cirurgia pode ser recomendada para evitar complicações a longo prazo. Em casos graves, a compressão prolongada dos nervos pode levar a lesões permanentes. Nessas situações, a cirurgia pode ser a melhor opção para prevenir danos neurológicos irreversíveis. Se os sintomas da hérnia de disco retornam após um período inicial de melhora com tratamentos conservadores, a cirurgia pode ser considerada para resolver o problema de forma mais definitiva. No entanto, se a hérnia de disco interfere significativamente nas atividades diárias, como trabalho e lazer, a cirurgia pode ser recomendada para melhorar a qualidade de vida do paciente. “A cirurgia não é a primeira opção. A decisão é sempre tomada em conjunto com o paciente, considerando seus sintomas, histórico médico e metas de tratamento. Minha abordagem, como especialista em cirurgia minimamente invasiva em coluna, visa minimizar o trauma aos tecidos circundantes, promover uma recuperação mais rápida e oferecer resultados eficazes, contribuindo para a retomada das atividades normais do paciente”, aponta.

Diagnóstico

O diagnóstico da hérnia de disco envolve váriasetapasparagarantir umaavaliação precisa. Aqui estão os passos comuns encaminhados pelo neurocirurgião Jamil Farhat Neto.

História Clínica e exame: É essencial, incluindo perguntas sobre os sintomas, a duração, fatores agravantes e atenuantes.

Exame físico: O médico realiza testes específicos para avaliar a força muscular, reflexos, sensibilidade e outras funções neurológicas.

Ressonância Magnética: É frequentemente o mais eficaz para visualizar os tecidos moles da coluna vertebral, incluindo os discos. Ele fornece imagens detalhadas que ajudam a identificar a presença e localização da hérnia de disco.

Tomografia Computadorizada: Em alguns casos pode ser utilizada para avaliação detalhada da anatomia da coluna, especialmente quando a ressonância magnética não é possível ou é contraindicada.

Estudos Eletrofisiológicos: Avalia a atividade elétrica dos músculos e pode ajudar a identificar a presença de compressão nervosa. Avaliação Clínica Especializada: Pode ser necessário encaminhar o paciente a um especialista em coluna para uma avaliação mais detalhada e discussão sobre opções de tratamento.

Tipos de hérnias

Cervical: Ocorre na região cervical da coluna vertebral, que compreende as sete vértebras do pescoço (C1 a C7). Os Sintomas comuns são dor no pescoço, ombros e braços. Também pode estar associada ao formigamento e fraqueza nos membros superiores. “Quando há compressão das raízes nervosas cervicais, pode afetar a função dos nervos que controlam os músculos e a sensibilidade na região do pescoço e dos membros superiores”, alerta o médico.

Lombar: Ocorre na região lombar da coluna vertebral, composta pelas cinco vértebras inferiores (L1 a L5). Os sintomas comuns são dor na parte inferior das costas, que pode ter irradiações para as nádegas e pernas (ciática). Também causa formigamento e fraqueza nos membros inferiores. Quando há compressão das raízes nervosas lombares, pode afetar a função dos nervos que controlam os músculos e a sensibilidade na região lombar e nas pernas.

Torácica: É pouco comum. A localização dela está na região torácica da coluna vertebral, compreendendo as doze vértebras médias (T1 a T12). Os sintomas são dor na região do peito, abdômen e costas, e em alguns casos, pode afetar a função respiratória. Quando há compressão das raízes nervosas torácicas, pode afetar a função dos nervos que controlam a sensibilidade e os
músculos na região média das costas.

Incapacitante

A hérnia de disco é considerada incapacitante quando seus sintomas afetam significativamente a qualidade de vida e a capacidade funcional do paciente, prejudicando suas atividades diárias e profissionais de maneira significativa. A dor causada pela hérnia de disco é intensa, contínua e não responde adequadamente a tratamentos conservadores, ela pode se tornar incapacitante.

O neurocirurgião chama a atenção que isso pode impactar a capacidade do paciente de realizar até mesmo tarefas simples do dia a dia.

Entretanto, se a hérnia de discoresulta em déficits neurológicos significativos, como fraqueza muscular importante, perda de sensibilidade ou dificuldades de locomoção, isso pode levar à incapacidade funcional. “Quando os sintomas da hérnia de disco interferem nas atividades profissionais do paciente, impedindo-o de desempenhar suas funções laborais de maneira eficaz, a condição pode ser considerada incapacitante. Se a hérnia de disco afeta negativamente a qualidade de vida global do paciente, incluindo suas relações pessoais, atividades de lazer e bem-estar emocional, ela pode ser considerada incapacitante”, pontua.

Dr. Jamil Farhat Neto – Foto divulgação

Jamil lembra que a avaliação da incapacidade devido à hérnia de disco é uma consideração multifatorial, envolvendo não apenas a gravidade dos sintomas, mas também o impacto global na vida do paciente. Em casos em que a abordagem conservadora não proporciona alívio adequado e os sintomas se tornam incapacitantes, a cirurgia pode ser uma opção para melhorar a qualidade de vida do paciente.